quinta-feira, 13 de maio de 2010

O primeiro dia do resto da campanha de Dilma

Direto do Reinaldo Azevedo:

O PT leva ao ar hoje o seu programa político de 10 minutos. Pretende ser o primeiro dia do resto da campanha de Dilma Rousseff.

Dilma deixou o governo há um mês e meio. Seu desempenho nestes primeiros 45 dias de pré-campanha — esta notável invenção brasileira!!! — tem surpreendido muita gente. Pela ruindade! A expectativa era a de que o “profissionalismo” dos petistas transformaria, rapidamente, a criatura eleitoral de Lula num fenômeno de opinião pública. Na prancheta do PT, a candidatura do tucano José Serra, a esta altura, já deveria estar na lona. Vamos ver as pesquisas daqui a alguns dias. O fato é que também ele tem surpreendido pela desenvoltura.

“A dificuldade da oposição será encontrar um discurso”, afirmava-se. O fato é que “o Brasil pode mais”, de Serra, parece estar sendo mais bem-recebido do que “O Brasil pode o mesmo”, de Dilma.

E onde está a diferença? Nos marqueteiros? Acho que não. É claro que eles já estão atuando a esta altura. Mas ainda contam muito pouco. O que realmente tem servido como elemento distintivo são as qualidades de cada um. Serra parece mais adequado ao figurino do “posso fazer mais sem negar o passado” do que Dilma ao do “comigo nada vai mudar”. E por quê? Porque o tucano pode levar adiante a sua postulação sendo apenas José Serra, sendo quem é, exibindo a sua trajetória e a sua biografia. Dilma, ao contrário, tem de deixar de ser quem é para ser outra pessoa: tem de provar que pode ser Lula.

Nesse particular, o endeusamento da figura do presidente cria certos embaraços para que ela dê o salto necessário. Se ele conseguiu lhe transferir os 20 e poucos por cento de voto que tem até agora, o certo é que ela não ganha só com isso. Terá de convencer muito mais gente de que “ela” é “ele”.

Lula, sem dúvida, é um poderoso tônico eleitoral. O percentual que ela tem se deve inteiramente a ele. O que se tentou avaliar nestes primeiros 45 dias era o potencial para poder conquistar seus próprios votos. E ficou evidenciado, os petistas sabem disso, que, deixada à própria sorte, Dilma é um desastre ambulante.

Lula sempre compensou suas carências de formação intelectual com uma aguçada inteligência e com uma capacidade, única da política brasileira, de dizer bobagens que parecem apelar a certa profundidade. Ainda ontem, no SBT Brasil, afirmou que um dos problemas do mundo com o Irã é que nenhum dos governantes das grandes potências conversou com Ahmadinejad “olhos nos olhos”.

Digam-me: neste vasto mundo, quem mais poderia dizer tamanha tolice sem ser tratado como idiota? Ninguém! Lula, no entanto, pode. Já a sua criatura eleitoral não é dotada do mesmo poder. Pode até ser mais culta do que o chefe, não muito!!!, mas se mostra bem menos inteligente. Comete gafes imensas. Ainda ontem, afirmou que o Irã “controla armas nucleares”…

Já haviam me dito, e gente bem íntima do governo, que a grande competência de Dilma está em criar e alimentar a fama de que é competente. Seu perfil notavelmente autoritário, avesso a quaisquer contestações e mesmo a contra-argumentos, criou uma carapaça que sempre a protegeu do embate intelectual ou técnico. Os que ousavam divergir não eram exatamente convencidos pela ministra, mas esmagados e desmoralizados.

Numa campanha eleitoral, as coisas não são bem assim. Os “construtores da Dilma eleitoral” falharam nessa passagem da Dilmona Malvadeza para a Dilminha Ternura. As tentativas de “humanizar” o seu perfil na Internet não conseguiram ser nada além de patéticas: só geraram notícia negativa.

Resumo da ópera: Dilma não consegue, definitivamente, andar pelas próprias pernas. E, assim, voltamos ao programa.

As curtas inserções do PT nos últimos dias, marcadas pela ilegalidade, como todo mundo viu, revelaram que não tem jeito: não há Plano B possível com Dilma. Renunciou-se de vez à hipótese de investir na construção de uma candidatura com vida própria. O único caminho é mesmo aquele delineado pelo presidente: o do plebiscito. A chance de a petista ser eleita está em promover uma espécie de julgamento de dois governos: o de Lula e o de FHC, no que está programado para ser um casamento entre as mentiras sobre o presente e as mentiras sobre o passado.

Essa é a tônica do programa que vai ao ar à noite, uma antecipação do horário eleitoral gratuito. O confronto entre Serra e Dilma, estes 45 dias deixaram claro, pode ser desastroso para o PT. Então se vai fazer o confronto entre um Lula de ficção e um FHC de ficção; entre um Lula inventado por Lula e um FHC também inventado por Lula. O PT pretende que a campanha eleitora gire em torno do “medo de uma volta ao passado” — a um passado reescrito, evidentemente, pelo… PT!!!

E então Dilma surge como a procuradora do presidente Lula num eventual futuro governo. Ontem, na entrevista ao SBT Brasil, confrontado com a crítica da oposição — que o acusa de agir como se o Brasil tivesse sido criado em 2003 — e indagado se ele, de fato, não exagerava um pouco, Lula respondeu: “Mas é isto mesmo!” Vale dizer: para ele, o Brasil foi mesmo descoberto em 2003.


Logo mais, os 510 anos de história do Brasil serão revistos à luz do Advento. No começo — os primeiros 502 anos —, eram as trevas, aí Lula disse: “Fiat lux”. E tudo começou.

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