Postamos, em duas oportunidades, os motivos da rejeição de Dilma pelas mulheres. Esperamos que essa rejeição cresça, a cada dia mais.
Sem saber, ou reconhecer, os motivos da baixa intenção do voto feminino em sua candidata, o PT busca razões para rejeição de Dilma, conforme escreve Paulo de Tarso Lyra, de Brasília, para o Valor Econômico
O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia do lançamento da pré-candidatura presidencial de Dilma Rousseff, afirmando "mulherada do meu querido Brasil, essa é uma oportunidade ímpar de vocês irem à luta para fazer valer o interesse de vocês" ainda não sensibilizou o eleitorado feminino. A petista perde para José Serra (PSDB) em todos as pesquisas recentes que avaliaram a intenção de voto entre as mulheres. No Datafolha, Serra tem 33% de intenções de votos entre as mulheres e Dilma 24%. Na CNT/Sensus, os resultados são parecidos: Serra tem 33,4% e Dilma 24%. E na CNI/Ibope, divulgada na quarta-feira, Serra tem 37% e Dilma, 25%.
Lula tem repetido em suas viagens pelo país que Dilma é sua candidata. Na festa de pré-lançamento da candidatura, as mulheres do PT encheram o auditório com bandeiras da legenda na cor roxa. O presidente lembrou dos tempos de metalúrgicos, exaltou a emancipação feminina, elogiou a disposição das mulheres para a tripla jornada de trabalho. E convocou-as para votar na chefe da Casa Civil. "É um momento extraordinário para que se deem as mãos e saiam à luta para ganhar as eleições".
Mesmo assim, 44% das mulheres entrevistadas pelo Ibope desconhecem o apoio político de Lula a Dilma. Entre os homens, esse desconhecimento é de 33%. Em relação ao eleitorado masculino, a situação é diferente: Dilma disputa voto a voto com Serra a preferência entre os homens. Na pesquisa Ibope, ela chega a ter mais votos que o tucano: 36% a 34%. No Datafolha, os dois pré-candidatos empatam (32% a 32%) e na CNT/Sensus, Serra tem uma discreta vantagem (33% a 31,9%).
A secretária nacional de mulher do PT, Laisy Moriere, admite a necessidade de um discurso específico para o público feminino. Mas acha que ainda não há motivos para alarme. "Hoje não existe ainda a campanha propriamente dita. Quando ela começar de verdade, vamos fazer um trabalho para mobilizar as mulheres do PT", disse Laysi. Ela convoca também a militância feminina dos demais partidos aliados para se engajar na tarefa de divulgar a candidatura Dilma entre as filiadas.
Para Laysi, além do discurso óbvio de que Dilma foi a primeira ministra de Minas e Energia do país, a primeira chefe da Casa Civil - responsável pelo comando administrativo do governo - e a primeira pré-candidata do PT a presidente, Dilma vai beneficiar-se das ações desenvolvidas nos últimos oito anos. "Foi no governo Lula que a Secretaria Especial dos Direitos das Mulheres foi criada. Isso não é pouca coisa, é muita coisa", defendeu Laisy.
Mas representantes do movimento feminino ouvidas pelo Valor têm uma série de ressalvas. Para elas, nem Dilma nem Marina Silva (PV) foram capazes de personificar, até o momento, o ideário feminino. Na opinião destas entidades, se Dilma é de fato a continuidade do governo Lula, como vem sendo afirmado, ela não trará muita coisa além do que já foi feito.
Um dos pontos de resistência, por exemplo, é o recuo do governo em relação ao 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH). As entidades feministas temem que o Executivo ceda às pressões e desista de abrir o debate sobre a legalização do aborto. Quase 70 entidades divulgaram nota, assinada pela secretária nacional das jornadas brasileiras pelo direito ao aborto legal e seguro, Paula Viana, defendendo que "o texto do 3º PNDH seja mantido em sua integralidade e dispondo-se a um novo encontro com o ministro (Paulo Vannuchi, dos Direitos Humanos), caso necessário". A primeira reunião aconteceu no dia 24 de fevereiro.
A subsecretária de articulação institucional da Secretaria Especial dos Direitos da Mulher, Sônia Malheiros Miguel, acredita que a resistência do eleitorado feminino em votar em outra mulher vem atrelada ao machismo que domina a sociedade brasileira. "Temos 50% da população, 51% do eleitorado, mas ainda somos sub-representadas do ponto de vista político". Sônia lembra as dificuldades de inserção das mulheres no mercado profissional e as discrepâncias salariais em cargos equivalentes aos ocupados pelos homens.
Laysi Morieri acrescenta que, mesmo dentre aquelas que obtém sucesso, o funil vai se estreitando à medida que se sobe na escala hierárquica. "Temos uma infinidade de juízas de primeira instância. Mas no Supremo Tribunal Federal, são duas ministras e nove ministros", exemplificou.
A Secretaria Especial dos Direitos das Mulheres contratou um instituto independente para realizar, a partir de abril, uma pesquisa para tentar descobrir os motivos da baixa representação feminina nas instâncias decisórias do país. Mas Sônia Malheiros acha precipitada qualquer avaliação sobre o êxito de Dilma nas eleições de outubro. "Ainda é cedo para sabermos se o discurso de Dilma vai ou não encontrar eco junto ao eleitorado feminino".
Este blog lembra: o custo dessa pesquisa será pago com nosso rico dinheirinho.
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