quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O “aborto de 2010″ não é a “privatização de 2006″

Reinaldo Azevedo desmonta a "análise" de Marcelo Moraes que compara a boataria da privatização, empreendida pelos petistas, em 2006, com as verdades sobre a posição pró aborto de Dilma.

Embora um se apoiasse em boatos, sem provas, e a outra em fatos, comprovados por vídeos e textos, como mostra RA, se o resultado for a corrosão de votos na petista, que prevaleçam os fatos. Uma coisa é certa. O PT querer ressuscitar o tema privatização para atacar Serra. Não vai colar. Menos pela atuação da campanha tucana (será que aprendeu a responder a isso?) e mais pela ficha que está caindo na cabeça do eleitor. Acesso à telefonia, só mesmo em mãos privadas; esfacelamento de uma empresa-modelo, como os Correios, só mesmo em mãos petistas.


Confiram as ponderações de RA, em Italic.


No Estadão de hoje, sob a rubrica “Análise”, Marcelo de Moraes faz uma associação absolutamente indevida entre a questão do aborto na eleição de 2010 e a boataria criada pelo PT em 2006, segundo a qual Alckmin privatizaria a Petrobras, o Banco do Brasil e a CEF. A comparação parece redondinha. Mas está errada. A palavra “análise”, diga-se, remete à idéia de pegar um todo e dividi-lo em partes, que podem, então, ser descritas no detalhe. É no detalhe que Moraes erra. A análise falhou. E

"Há pelo menos duas semanas, a campanha da petista Dilma Rousseff não consegue se livrar dos efeitos políticos provocados pela discussão da legalização do aborto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou mensagens em que Dilma defendia a família. Dirigentes petistas deram declarações de que a candidata era contra a proposta. Ela própria afirmou que valoriza a vida em todas as suas dimensões. Pouco importa. Nada funcionou até agora, e Dilma segue sangrando por conta do tema. Simplesmente porque a versão não convence. Historicamente, setores expressivos do PT defendem a legalização e isso chegou ao conhecimento do conservador eleitorado cristão.

Moraes esqueceu de dizer que, até agora, ela não disse que é contra o descriminação do aborto. E não pode dizê-lo porque há uma fartura de provas de que é a favor: um vídeo confrontado com outro traria uma palavrinha incômoda ao debate: “MENTIRA”. Ou ainda: “FINGIMENTO”. Ou uma terceira para os mais escolarizados: “OPORTUNISMO”. O texto de Moraes diz tudo: “dirigentes petistas deram declarações de que a candidata era contra a proposta”. Falam por ela. Ocorre que ela já falou por si mesma..


Trata-se, rigorosamente, do mesmo problema enfrentado pelo tucano Geraldo Alckmin em 2006, quando disputou a eleição presidencial contra Lula. Na ocasião, os petistas divulgaram que Alckmin e o PSDB privatizariam todas as grandes empresas do País, incluindo Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

“Erradíssimo”, como diria o agregado José Dias, de Dom Casmurro! Atenção, Moraes: era simplesmente mentira que Alckmin tivesse a intenção de privatizar aquelas estatais! É simplesmente verdade que Dilma é favorável à descriminação do aborto. Entendeu? Aquela foi uma peça de propaganda criada por marqueteiros; esta foi uma corrente de protesto iniciada por cristãos de várias confissões. Cuidado com as palavras, Moraes! Especialmente numa “análise”, que tem de se ligar a detalhes. Os petistas não “divulgaram” que… Eles “inventaram” que… As provas de que Dilma defende a descriminação do aborto estão em toda parte; as de que Alckmin privatizaria estatais não estava em lugar nenhuma. Uma coisa se assenta num fato; outra se assentava numa central de boato que tinha origem definida.

Em nenhum momento Alckmin, ou qualquer integrante do comando de sua campanha, haviam anunciado proposta parecida com essa, mas não fez a menor diferença. Sem conseguir apresentar um discurso convincente sobre o assunto, Alckmin desidratou nas urnas e ficou com a pecha de vendedor do patrimônio nacional.

Viu como você sabe a diferença? De fato, em nenhum momento Alckmin havia enunciando aquelas coisas. Você diria o mesmo sobre Dilma? Em nenhum momento ela se disse favorável à descriminação do aborto? Ora…

O impacto dos dois casos é semelhante porque a resposta dada é igualmente enviesada. Em vez de falar abertamente sobre privatizações, que tinham casos positivos como a telefonia, o PSDB preferiu desconversar.

É a coisa certa do seu texto.

Os petistas seguem a receita. Em vez de assumir a discussão difícil, recuaram, temendo a perda do eleitorado cristão, contrário ao aborto. Pelo que o eleitor mostrou no primeiro turno, esse voto antiaborto já está perdido.

Aqui as coisas já se complicam um pouco. O que você espera que Dilma faça? Que explique por que era favorável à descriminação até o ano passado e por que mudou de idéia agora? Ou que tente convencer a opinião pública sobre as vantagens da descriminação? Eu até torço para que ela faça isso, se e que você me entende.

Não, Moraes! São coisas muito diferentes. Ao comparar uma à outra, ou você torna verdadeiro o boato que colheu Alckmin, como verdadeiro é o fato de que Dilma é favorável à descriminação do aborto, ou você torna boato o fato, como boataria era aquela traquinagem sobre as privatizações. Percebeu como os petistas ganham nos dois casos? A razão é simples: antes como agora, a mentira lhes é útil.

A comparação, como se demonstra aqui, não procede.

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