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ANÁPOLIS (GO) - Numa pequena sala ao lado da catedral Bom Jesus, no centro de Anápolis (GO), o padre Luiz Carlos Lodi mantém seu bunker e suas ofensivas contra os defensores da descriminalização do aborto. Foi de lá, em 1998, que o religioso iniciou sua cruzada contra o então ministro da Saúde, José Serra, que assinou a norma técnica que permite, na rede do SUS, a realização do aborto em mulher vítima de estupro. O alvo de Lodi hoje é Dilma Rousseff que, segundo ele, é de um partido abortista, o PT.
Na disputa entre os dois no segundo turno, o padre, que preside o movimento Provida de Anápolis, prega o voto útil. Faz uma espécie de apoio crítico ao tucano, considerado por ele um "mal menor". Lodi repete expressões e metáforas do bispo emérito de Anápolis, dom Manoel Pestana, e diz que Serra, nessa questão de aborto, é um "incêndio controlado" e Dilma, uma "catástrofe incontrolável".
A Dilma dizer agora que é a favor da vida e que nunca defendeu o aborto é alterar a verdade dos fatos
- Na falta do bom, a gente vota no menos mau - disse o padre Lodi.
Contra Dilma, o religioso usa todas as mídias possíveis: panfleto, o pequeno jornal do Provida, a internet, telefonemas e até a homilia nas missas que celebra todos os dias.
- Não posso me calar. O crime do aborto é o tipo de homicídio que mais ofende a Deus. Peço aos cristãos que rezem, dobrem os joelhos mesmo. A Dilma dizer agora que é a favor da vida e que nunca defendeu o aborto é alterar a verdade dos fatos.
O padre Lodi tem 46 anos e ganhou notoriedade no final dos anos 90, na investida contra suposta tentativa de legalização do aborto. Ele organizou uma grande manifestação contra Serra, no terceiro aniversário da norma que permitiu o chamado "aborto legal", em 9 de novembro de 2001. Lodi chegou a compor um jingle contra a iniciativa do ministro. A letra diz que "médico não é carrasco e hospital não é matadouro". O refrão faz um apelo: "senhor ministro, revogue a norma técnica do aborto".
Hoje, Lodi minimiza a participação de Serra na elaboração do texto e diz que o presidenciável tucano tem três atenuantes.
- O Serra se viu obrigado a assinar o documento, que já estava na sua mesa; não é jurista; e, na sua trajetória, nunca foi um militante pró-aborto. Ainda assim lamento muitíssimo. Gostaria que ele se arrependesse - disse Lodi.
O Serra se viu obrigado a assinar o documento, que já estava na sua mesa. Gostaria que ele se arrependesse.
Num dos boletins do Provida, o padre recomenda a opção por Serra e aconselha os fiéis de Anápolis, ao entrarem na cabine eleitoral no dia 31 de outubro, que rezem para não cair na tentação de anular o voto.
"Na hora de pressionar as teclas, talvez seja preciso prender a respiração antes de digitar 45 (número de Serra). Mas o amor à Deus e à Pátria exige de nós esse sacrifício".
O Provida de Lodi mantém um abrigo para acolher mulheres, de todas as faixas etárias, que engravidam de padrastos, homens que não assumem a responsabilidade e várias vítimas de violência sexual. O padre estimula as mulheres, mesmo as que sofreram estupro e até com 11 anos de idade, a terem o filho.
- É um mito dizer que a mãe rejeita o filho resultante do estupro. Pelo contrário. Todas têm um apego extraordinário a eles. É o preferido da mãe.
Sobre José Serra ter declarado ser a favor da união civil entre homossexuais, Lodi alerta o tucano.
- Me deixou chateado. Ele vinha crescendo nas pesquisas. Espero que ele volte atrás até o dia 31.
O religioso formou-se em Direito e faz doutorado. O tema de sua tese de dissertação é "A alma do embrião humano".
terça-feira, 19 de outubro de 2010
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