quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Serra: é espantoso o grau de delinquência na campanha de Dilma

Vale a pena ler a entrevista de Serra a Marcela Rocha, do site TERRA


Em entrevista exclusiva ao Terra nesta madrugada, o candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, diz que a quebra do sigilo fiscal de sua filha, Verônica, faz parte de uma operação armada em benefício da candidatura de sua adversária Dilma Rousseff (PT). "É espantoso a gente ver o grau de delinquência que envolve a campanha dela, uma candidata inventada, a quem se atribui um monte de coisas que não fez", ataca ele.
A Receita Federal afirmou no final da noite desta terça-feira (31) que o acesso aos dados do imposto de renda de Verônica teria sido feito a pedido da própria contribuinte e motivado por uma procuração com firma reconhecida em cartório. "Isso é hilariante", ironiza o candidato. E completa: "essa é uma maneira de distrair a atenção e de dar uma versão mentirosa para ocupar espaço na imprensa. Aliás, o que é muito típico do PT, da campanha da Dilma e dela própria".

Economista de formação, Serra afirma que Dilma apresenta dados inverídicos sobre o País. Ex-ministro da Saúde na gestão FHC, o candidato diz também que as declarações da petista sobre o setor "deveriam ser arquivadas no Museu da Imagem e do Som". Para ele, "há duas Dilmas: a do teleprompter, ou colinha, e a verdadeira". E arremata: "se eu não tivesse a expectativa de ganhar ficaria horrorizado com a sorte do Brasil". Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Terra - O sigilo de sua filha, Verônica, foi quebrado. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
José Serra - Na verdade, esta operação, de envolver a filha de um candidato para prejudicar a eleição dele, foi feita pela primeira vez por Collor e contra Lula. Agora, o pessoal da Dilma está usando a mesma tecnologia. Aliás, não é por coincidência que o Collor está apoiando Dilma, e ela o apoiando. Por que mexer com a filha de um candidato? Têm medo de que ele ganhe? Montar essa farsa é um crime contra a Constituição. O sigilo fiscal é protegido. Não porque haja qualquer problema, minha família é ficha limpa. Isto é uma baixaria para ser utilizada em campanha. Os dados do Imposto de Renda da minha filha, que já haviam sido quebrados, estavam sendo postos nos blogs sujos, no ano passado. Na época, ela ainda me disse: 'provavelmente quebraram meu sigilo porque tem informações aqui que só tem no meu IR'. E o Imposto de Renda dela sempre foi caprichado, tudo direitinho.

A Receita alega que o sigilo foi quebrado a pedido da contribuinte através de uma procuração.
Isso é hilariante. Como eles já sabiam que essa quebra de sigilo acabaria vindo a público, eles já trabalharam nessa farsa grotesca. Minha filha nunca pediu para quebrarem o sigilo dela. Todo mundo que declara Imposto de Renda tem as declarações consigo. Se quiser olhar, vai lá e pega. E mais, por que ela faria isso em Santo André? Não tem nada a ver. Ela trabalha em São Paulo, capital. Essa é uma maneira de distrair a atenção e de dar uma versão mentirosa para ocupar espaço na imprensa. Aliás, o que é muito típico do PT, da campanha da Dilma e dela própria. Nós sabemos que esse serviço de espionagem foi montado no ano passado. Todo mundo parte de um jogo sujo montado para pegar gente do PSDB, mais ou menos próxima. Não hesitaram em pegar minha filha, uma mulher que cuida de três crianças pequenas, trabalha muito e não está metida em política. Ela já sofreu bastante devido ao meu envolvimento na política.

Por quê?
Ela me viu ser preso e algemado no aeroporto, no Chile, pela polícia do Pinochet, quando tinha quatro anos de idade. Ficamos meses e meses, eu, ela, o irmãozinho e a mãe, refugiados numa embaixada em Santiago, uma verdadeira prisão. Era uma tensão horrível. Ela ficou anos fazendo desenhos onde aparecíamos cercados por muros. Na era petista, passou a ser vítima dos blogs sujos, jornalistas alugados. E agora mais esta. Esse pessoal não tem escrúpulos mesmo. Eu me pergunto o que aconteceria se eles chegassem ao poder. Se fazem o que fazem em uma campanha, imagine no governo. Ainda bem que tenho expectativa de ganhar essa eleição. É espantoso a gente ver o grau de delinquência que envolve a campanha da Dilma, uma candidata inventada, a quem se atribui um monte de coisas que não fez.

Esse processo corre o risco de ser resolvido só depois das eleições.
Aí é uma questão da Justiça. Que ela não anda depressa, não anda. E às vezes nem pode andar depressa porque tem certos procedimentos que precisam ser seguidos. Aliás, quando eles armam os factoides, dizendo mentiras para despistar, jogam também com esse elemento.
Vamos falar um pouco sobre a campanha? Há quatro meses o senhor é a opção oficial do PSDB à presidência da República. Teria feito algo diferente desde que se lançou candidato?
A menos que tivesse bola de cristal, não. Fiz o que tinha de fazer.

Muitos aliados reclamam da falta de diálogo com o senhor. Aceita essa crítica? O que acha dela?
Duvido que sejam "muitos". Sempre estive disponível para todas as coisas importantes. Por exemplo, ajudei como nunca na formação das alianças estaduais.

O senhor começou a campanha muito a frente de sua adversária nas pesquisas. Algo saiu fora do previsto? Algo deu errado? O quê?
A campanha, de fato, começou em agosto.

Assim como se admite a vitória, admite-se também a derrota quando se entra em processos eleitorais. Caso não vença, o que o senhor imagina que faria da vida?
Olha, só penso na vitória. Você me acompanha há algum tempo e nunca me viu sentir ou pensar diferente.

Nem desanima com as pesquisas?
Anteontem, morreu Dorina Norwill, uma mulher extraordinária. Segundo sua neta, ela dizia: 'eu tenho uma mola em baixo de mim, quando algo me puxa para baixo, eu reajo para cima'. Nisso, sou igual à Dorina.

Tenho acompanhado o senhor em quase todas as viagens. Noto que desde a última semana o senhor passou a pedir voto. Por quê?
Porque estamos chegando mais perto do dia da eleição. Isso sempre acontece.

Cada presidente deixa uma marca que faz com que ele seja relembrado na história. FHC, com o Plano Real, por exemplo. Como o senhor gostaria, caso eleito presidente, de ser lembrado pela história?
Como um bom presidente, que conseguiu construir as bases de um desenvolvimento nacional sustentado, elevar a ética e a seriedade na vida pública, e que pôs a educação, a saúde e a segurança no rumo. Mas quem vai escolher a marca não serei eu.
No discurso que o senhor fez na convenção nacional do PSDB em Salvador, comparou Luiz Inácio Lula da Silva a Luis XIV. A qual personagem da história se compararia?
Bem, não foi uma comparação de verdade. Você não percebeu a brincadeira? Mas creio que seria pretensioso me comparar a algum personagem histórico de grande porte.

Quando assumiu a prefeitura da capital, o senhor reviu os contratos feitos pela sua antecessora Marta Suplicy. Acredita que isto é algo que deve ser feito pelo próximo presidente em âmbito nacional?
Não revi os contratos. Renegociei preços, que eram, em geral, inflados. Claro que no governo federal procuraremos renegociar preços inflados.

Hoje, aparentemente, a economia vai bem. O crédito é abundante, as reservas são altas, a inflação não pressiona - está controlada - e há perspectiva de crescimento. O senhor acredita que algo ameace esse quadro? O senhor vê algum risco iminente de desequilíbrio desses fatores no mandato do próximo presidente?
Depende de quem for eleito. Como espero vencer, vamos controlar os desequilíbrios, que são óbvios na área externa, onde o deficit em conta corrente cresce vertiginosamente.

O que o senhor achou da entrevista de Dilma ao Jornal da Globo? Mais especificamente, o que achou do que ela disse sobre economia?
Sinceramente, não entendi nada, exceto as falsidades... Você viu a entrevista que ela deu sobre Saúde no sábado passado? Também não entendi nada. Aliás, deveria ser arquivada no Museu da Imagem e do Som (MIS). Há duas Dilmas: a do teleprompter, ou colinha, e a verdadeira.

Falsidades na economia?
Ela afirma que as taxas de juros no Brasil estão convergindo para as internacionais, quando ocorre o inverso. É de arrepiar que ela não saiba disso. Diz que durante 25 anos o governo não investiu no Brasil. Quais 25 anos? Antes do Lula? A taxa média de investimentos nesse período foi muito mais alta do que a do governo Lula. Aliás, hoje é uma das mais baixas do mundo todo. Ela fala que repudia segurar créditos tributários para fazer caixa. Mas é exatamente o que foi feito no governo dela com o imposto de renda à pessoa física, cuja devolução foi retardada com o objetivo confesso de fazer caixa. Diz que acabou com o racionamento de energia elétrica no Brasil. Acabou como, se, quando Lula assumiu, não havia racionamento no Brasil? Conta vantagens sobre hidrelétricas, apesar de não ter concluído nada importante nessa área em oito anos! E afirma que botou R$ 8,5 bilhões no saneamento em São Paulo! Falsidade total. Se eu não tivesse a expectativa de ganhar ficaria horrorizado com a sorte do Brasil.

O senhor acredita que o eleitor vota com o bolso ou por razões subjetivas?
O que decide o voto do eleitor? Exceto marquetólogos de segunda, ninguém sabe ao certo antes da eleição. As boas análises, como não poderia deixar de ser, são sempre a posteriori.

O senhor é crítico contumaz do modelo de gestão dos órgãos públicos da administração Lula (Correios, agências...). Como pretende mudar esse modelo?
O que há de muito grave é o loteamento. É isso o que o governo faz, e o que ela faria desenfreadamente se fosse eleita. Entrega os Correios para este partido, a diretoria financeira de uma grande estatal para a fração de um partido semi-aliado, aluga a Fundação Nacional de Saúde para três partidos, etc. E os sujeitos nomeados, na maior parte das vezes, nem políticos de segunda são. Muito menos técnicos. São só afilhados de políticos, sem nenhuma qualificação, que vão lá para utilizar os órgãos públicos a favor dos seus chefes. Já li que um deles disse que conhecia os Correios só como usuário...

Defende a denominação "terrorista" atribuída por parte de seus aliados a Dilma? Por quê?
Sinceramente? Eu não tenho maior preocupação a respeito do passado da Dilma. O importante, e o que me preocupa, são as ideias ou as não ideias do presente.

Mudando completamente de assunto, o senhor pretende colocar nas bebidas aquelas imagens que colocou nos maços de cigarros? O que acha de servirem bebidas alcoólicas em avião?
Acho que não poria essas imagens, não. Mas a ideia de não servir bebidas alcoólica ou limitá-las bastante nos aviões é boa.

E por fim, o senhor tem um melhor amigo?
Tenho vários melhores amigos. E perdi vários, de maneira implacável, nos últimos tempos. O último foi (o ex-secretário da Saúde de São Paulo, Luiz Roberto) Barradas.

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