Serra precisa mudar no segundo turno, diz Aécio
Na Folha online
"Vou colocar um blaser", diz Aécio Neves, 50, antes de falar ao UOL e à Folha ontem em seu apartamento em Belo Horizonte. De calça jeans, ele transmite tranquilidade. Está com 67% de intenção de votos para o Senado. Seu candidato ao governo de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), lidera as pesquisas.
Animado com o Datafolha indicando possibilidade de haver segundo turno na disputa presidencial, ele sentencia sobre o que fazer após 3 de outubro na campanha de José Serra: "Teremos de dar um freio de arrumação".
Como assim? Para Aécio, é preciso usar mais líderes regionais na campanha --como o paulista Geraldo Alckmin e o mineiro Anastasia.
Num segundo turno entre Serra e Dilma Rousseff (PT), Aécio julga essencial atrair o apoio de Marina Silva: "Não é apenas o apoio formal da candidata. É o PSDB se aproximar e incorporar algumas propostas do PV". Leia trechos da entrevista, cujo vídeo pode ser visto no UOL.
Folha - PSDB errou ao não fazer prévia para escolher o candidato a presidente?
Aécio Neves - Gostaria que tivesse havido. Mas como não houve, seria incorreto voltar ao assunto agora. Hoje sou parceiro do Serra. A diferença é abissal entre a história e a qualidade do Serra e a da Dilma, sem demérito para ela. Mas as histórias são muito distintas. Serra é um líder, suas ideias são conhecidas. Dilma ainda é só o reflexo de um líder.
Fernando Henrique Cardoso disse que a eleição já estaria decidida a favor de Dilma. Por que ele fez essa afirmação?
Ele me disse que o sentido foi outro. Fernando Henrique é um líder importantíssimo do partido e eu faço "mea culpa". Acho que deveríamos ter sido mais afirmativos na defesa do governo dele.
O que o PSDB deve fazer se Serra for ao 2º turno?
Nós teremos de dar um freio de arrumação. O fato de nós, lideranças políticas regionais, estarmos com nossas situações solucionadas, espero que para o bem, nos permitirá um tempo maior e uma participação maior, inclusive nas decisões políticas da campanha. Cito dois Estados. Uma vitória em São Paulo com o Geraldo [Alckmin] e uma vitória aqui em Minas com o Anastasia. São os dois principais colégios eleitorais e têm efeito prático no segundo turno. Além de desmobilizar as oposições regionais, há uma vinculação natural dos prefeitos e dos líderes políticos em torno do governador eleito. Esses governadores terão um poder político eleitoral maior. Isso pode ser uma alavanca vigorosa para o Serra no segundo turno.
O que sr. chama de freio de arrumação?
Uma politização maior da campanha. Um diálogo mais permanente da campanha. Eu não culpo o Serra por isso. A campanha tem sua dinâmica. O Serra está se desdobrando. Quem acompanha o Serra tem de reconhecer o esforço pessoal que ele está fazendo. Com a cara boa, por mais que alguns achem que isso seja difícil, mas com a cara boa onde ele vai. Estivemos agora em Diamantina, num evento espetacular. Ele está muito à vontade. Passa um disposição enorme. Mas tem faltado tempo para que a gente discuta mais politicamente. Porque determinado discurso no Sul não é o mesmo que cola no Nordeste.
Quais seriam os discursos?
É preciso que nós regionalizemos um pouco o discurso. Não dá para ter o mesmo discurso, a mesma construção política de comunicação para um Brasil tão diferente com este. A primeira iniciativa seria uma conversa com as principais lideranças que nós temos no Nordeste. Por onde ir? Como enfrentar essa questão do Bolsa Família?
Se houver segundo turno entre Dilma e Serra, o sr. acha possível atrair Marina Silva?
Ela tem sido muito crítica a Serra. Ela também tem sido crítica em relação a Dilma. Mas não é apenas o apoio formal da candidata. É o PSDB se aproximar e incorporar algumas propostas do PV. Isso não será difícil até em função das alianças regionais. Aqui em Minas PSDB e PV governaram juntos oito anos. Mas vamos respeitar a Marina, que ainda está postulando.
Por que o PSDB nunca se organizou de forma profissional como PT?
Esse é um grande desafio. O PSDB pode ser um partido mais nacional do que é hoje, renovando o seu discurso. A meta principal da ação política do PSDB era o fim da inflação, que ocorreu. Mas o Brasil e o mundo mudaram. As prioridades deixaram de ser aquelas. O PSDB, ganhando ou não as eleições, tem que renovar-se. Há uma sucessão geracional clara dentro do partido. É preciso que revisitemos o nosso programa e apontemos para o futuro.
A revista "Carta Capital" afirmou que o sr. deseja trocar de partido no ano que vem. O sr. vai mudar de partido?
Disse ao diretor da revista que aquilo era um absurdo. Não me ouviram.
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