terça-feira, 5 de outubro de 2010

Mudanças na campanha de Serra. É o que todos querem

Sensata análise de Augusto Nunes

Serra tem tudo para derrotar a adversária. Mas antes precisa vencer a teimosia

Até os bebês de colo, os índios isolados e os napoleões-de-hospício sabem que José Serra chegou ao segundo turno não pela campanha que fez, mas apesar dela. O marqueteiro Luiz Gonzales discorda. Acha que o chefe vai enfrentar Dilma Rousseff graças aos mutirões da saúde, às escolas com dois professores e ao salário mínimo de R$ 600. E pretende repetir na segunda etapa da eleição presidencial todos os erros da primeira. Como Serra ainda hesita sobre o caminho a seguir, só na sexta-feira, com a volta do horário eleitoral na TV, o Brasil que presta saberá se vai votar por sentir-se representado ou por exclusão.

Chancelados por 999 a cada mil eleitores oposicionistas, Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, os governadores eleitos pelo PSDB ou pelo DEM, os candidatos eleitos e os derrotados ─ quase por unanimidade, os aliados que contam defendem o duelo sem medos, acanhamentos, cautelas, mesuras e afagos. Todos acreditam que é possível ser afirmativo sem escorregar na deselegância. Todos sabem que a altivez não tem parentesco com a arrogância.

A candidatura de Dilma Rousseff foi sangrada pelo espanto provocado por escândalos na sala ao lado, roubalheiras impunes, declarações desastradas, contradições patéticas, discurseiras cínicas e outras incontáveis derrapagens. Alarmados, milhões de brasileiros resolveram examinar melhor a qualidade do produto oferecido por Lula. As causas do desgaste de Dilma não podem ser creditadas aos responsáveis pela campanha de Serra. Ganharam uma farta munição de presente e não souberam usá-la. O candidato tucano subiu alguns pontos, mas a principal beneficiária foi Marina Silva.

Se depender de Gonzales, nada mudará. Ainda no domingo, o PSDB de Minas colocou à disposição da campanha presidencial tanto os aliados vitoriosos quanto a equipe que cuidou do horário eleitoral. O marqueteiro-chefe respondeu no dia seguinte. Por e-mail, avisou que vai estudar a oferta e, assim que puder, comunicar o que será feito. Serra não deu um pio.

Aécio Neves e Itamar Franco já disseram com todas as letras que, se a campanha não abandonar o artificialismo, subordinar-se ao institinto político do candidato, esquecer o teleprompter e procurar afinar-se com a voz das ruas, a derrota terá sido apenas adiada. Até sexta, outros líderes oposicionistas endossarão a advertência. Ou Serra ouve a voz da sensatez ou se curva aos conselhos dos marqueteiros.

Ele tem tudo para derrotar Dilma Rousseff. Mas antes precisará vencer a teimosia.

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